Resumo
O presente artigo apresenta os dispositivos de vigilância sob a ótica de Michel Foucault em suas duas categorias: disciplinar e biopolítica. Tais conceitos são as bases que utilizo para refletir, a partir de autores contemporâneos, sobre as atuais técnicas de vigilância inseridas no que se pode chamar de uma nova categoria de dispositivo: o tecnopolítico. As investigações são feitas através da análise conjunta de duas tecnologias de poder contemporâneas: as redes sociais – com enfoque no Facebook – e as smart cities – ou ‘smartização’ das cidades. Através de conexões entre os conceitos apresentados e os dois estudos realizados, reflete-se sobre o papel da vigilância e seus mecanismos de controle dentro de três entendimentos do presente: dos dados como os novos combustíveis fundamentais da atual fase do capitalismo; do neoliberalismo como ideologia predominante nas relações sociais, de trabalho e de produção do espaço urbano; e da cibercultura, com a gradual dissolução dos limites entre real e virtual. O artigo aponta que os dispositivos tecnopolíticos têm impactos substanciais na produção de subjetividades e de cidadania – sendo condicionantes de um novo modo de viver urbano e contemporâneo – e propõe cenários possíveis de enfrentamentos a tal conjuntura.
Referências
Agamben, G. (2005) O que é um dispositivo?. outra travessia. 5, 9-16. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/Outra/article/view/12576/11743. [Consultado em: 16 de junho de 2020].
Bentes, A. C. F., Bruno, F. G. e Faltay, P. (2019) Economia psíquica dos algoritmos e laboratórios de plataforma: mercado, ciência e modulação do comportamento. Famecos. 26(3), 1-21. Disponível em: http://dx.doi.org/10.15448/1980-3729.2019.3.33095.
Berns, T. e Rouvroy, A. (2018) Governamentalidade algorítmica e perspectivas de emancipação: o díspar como condição de individualização pela relação? Em: Bruno, F., Cardoso, B., Guilhon, L., Kanashiro, M. e Melgaço, L. (orgs.) (2018) Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo, Boitempo.
Branco, P. A. T. (2019) Smart Cities como dispositivos biopolíticos. Em: Barreto, P., Bruno, F., Firmino, R., Natansohn, G. e Parra, H., Anais do VI Simpósio Internacional LAVITS: "Assimetrias e (In)Visibilidades: Vigilância, Gênero e Raça", 26-28 junho 2019, Salvador, Brasil. Salvador, UFBA. Disponível em: http://lavits.org/anais-do-vi-simposio-internacional-lavits-assimetrias-e-invisibilidades-vigilancia-genero-e-raca/?lang=pt. [Consultado em: 17 de junho de 2020].
Brand Finance (2020) Global 500 2020: The annual report of the world’s most valuable and strongest brands. Brand Finance. Disponível em: https://www.rankingthebrands.com/The-Brand-Rankings.aspx?rankingID=83&year=1289. [Consultado em: 17 de junho de 2020].
Bruno, F. (2004) Máquinas de ver, modos de ser: visibilidade e subjetividade nas novas tecnologias de informação e de comunicação. Famecos. 11(24), 110-124. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/3271. [Consultado em: 17 de junho de 2020].
Bruno, F., Cardoso, B., Guilhon, L., Kanashiro, M. e Melgaço, L. (orgs.) (2018) Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo, Boitempo.
Caldeira, T. P. R. (1997) Enclaves Fortificados: a nova segregação urbana. Novos Estudos. 47(1), 155-176. Disponível em: http://novosestudos.uol.com.br/produto/edicao-47/. [Consultado em: 17 de junho de 2020].
Caniato, A. M. P. e Nascimento, M. L. V. (2007) A vigilância na contemporaneidade: seus significados e implicações na subjetividade. Psicologia em Revista. 13(1), 41-68. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/psicologiaemrevista/article/view/260. [Consultado em: 16 de junho de 2020].
Carvalho, I. e Pereira, G. C. A cidade como negócio. EURE. 39(118), 5-26. Disponível em: http://dx.doi.org/10.4067/S0250-71612013000300001.
Carvalho, U. A., David, J. S. e Pedro, R. M. L. R. (2019) Cidades tolas, cidades inteligentes, cidades espertas. Em: Barreto, P., Bruno, F., Firmino, R., Natansohn, G. e Parra, H., Anais do VI Simpósio Internacional LAVITS: "Assimetrias e (In)Visibilidades: Vigilância, Gênero e Raça", 26-28 junho 2019, Salvador, Brasil. Salvador, UFBA. Disponível em: http://lavits.org/anais-do-vi-simposio-internacional-lavits-assimetrias-e-invisibilidades-vigilancia-genero-e-raca/?lang=pt. [Consultado em: 17 de junho de 2020].
Danner, F. (2010) O Sentido da Biopolítica em Michel Foucault. Estudos Filosóficos. 4, 143-157. Disponível em: http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/estudosfilosoficos/article/view/2357. [Consultado em: 17 de junho de 2020].
Dardot, P. e Laval, C. (2016) A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo, Boitempo.
Duarte, A. (2008) Sobre a biopolítica: de Foucault ao século XXI. Em: Estéticas da biopolítica: audiovisual, política e novas tecnologias – Revista Cinética. Disponível em: http://www.revistacinetica.com.br/cep/andre_duarte.htm. [Consultado em: 17 de junho de 2020].
Facebook (2018) Política de dados. Facebook. Disponível em: https://www.facebook.com/policy.php. [Consultado em: 17 de junho de 2020].
Ferreira, C. F. e Ferreira, L. V. (2019) Novas tecnologias e (in)segurança urbana. Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Uberlândia. 47(2), 198-222. Disponível em: https://doi.org/10.14393/RFADIR-v47n2a2019-48777.
Foucault, M. (2013) De espaços outros. Estudos Avançados. 27(79), 113-122. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-40142013000300008.
Foucault, M. (1984) Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Graal.
Foucault, M. (2008) Nascimento da biopolítica: curso no Collège de France (1978-1979). São Paulo, Martins Fontes.
Foucault, M. (1997) Resumo dos cursos do Collège de France (1970-1982). Rio de Janeiro, Jorge Zahar.
Foucault, M. (2008) Segurança, território e população: curso no Collège de France (1977-1978). São Paulo, Martins Fontes.
Foucault, M. (1977) Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis, Vozes.
Mello, P. C. (2020) A Máquina do Ódio: notas de uma repórter sobre fake news e violência digital. São Paulo, Companhia da Letras.
Mello, P. C. (2018) Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp. Folha de São Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/empresarios-bancam-campanha-contra-o-pt-pelo-whatsapp.shtml. [Consultado em: 05 de outubro de 2020].
Morozov, E. (2018) Big Tech: a ascensão dos dados e a morte da política. São Paulo, Ubu.
Moraes, M. M. (2018) Materialidades de práticas de vigilância: como suas curtidas no Facebook constroem um candidato político. Em: Hoff, T. e Tondato, M. P. Anais do Congresso Internacional em Comunicação e Consumo, 7º Encontro de GTS de Pós-Graduação, 8-11 outubro 2018, São Paulo, Brasil. São Paulo, PPGCOM ESPM. Disponível em: http://anais-comunicon2018.espm.br/encontroPos.aspx. [Consultado em: 16 de junho de 2020].
Oliveira, R. R. B. (2010) Cidade, Biopoder e População: uma abordagem histórico-teórica acerca do urbanismo. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal da Bahia UFBA, Salvador.
Rago, M. (2020) Inventar outros espaços, criar subjetividades libertárias. São Paulo, ECidade.
Rennó, R. (2016) Smart cities e big data: o cidadão produtor de dados. URBS Revista de Estudios Urbanos y Ciencias Sociales. 6(2), 13-24. Disponível em: http://www2.ual.es/urbs/index.php/urbs/article/view/renno. [Consultado em: 17 de junho de 2020].
We are Social e Hootsuite (2020) Digital in 2020. We are Social. Disponível em: https://wearesocial.com/digital-2020. [Consultado em: 17 de junho de 2020].
Zuboff, S. (2018) Big Other: capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação. Em: Bruno, F., Cardoso, B., Guilhon, L., Kanashiro, M. e Melgaço, L. (orgs.) (2018) Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo, Boitempo.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2020 Gabriel Barros Bordignon